
Wilton Carlos de Santana - Mestre em Pedagogia do Movimento pela UNICAMP (SP)Doutorando em Educação Física na Unicamp (SP)
"Em primeiro lugar (...) dar o Homem ao homem. Transmitindo-lhe toda a herança da cultura humana, criada pelo homem para nela se criar". Jorge Bento
Antes de contextualizar o esporte na escola, acho pertinente falar um pouco deste, de escola e também de educação. O esporte é - independentemente de possíveis definições e de suas dimensões previstas na Constituição Brasileira - um dos elementos da cultura corporal ou motora. Os outros são o jogo, a dança, a ginástica, as lutas.
Todos são produções culturais construídas pelos homens ao longo da história. Logo, o esporte constitui-se em patrimônio cultural da humanidade. E, como tal, direito de cada um. A escola, agência responsável pelo ensino formal, é eminentemente cultural e educacional. Foi idealizada, suponho, para que todos pudessem se apropriar dos conhecimentos construídos pela humanidade e, por extensão, criar consciências capazes de construir outros tantos conhecimentos. Por conseguinte, é dever da escola garantir a todos o direito de acessar o que, de direito, é de todos. A escola tem o dever de socializar o conhecimento. Portanto, em se tratando de esporte, deve, ao longo de um processo qualitativo, assumir a tarefa de educar: desenvolver capacidades, habilidades e construir atitudes que contribuam para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Chega um momento na vida em que ingressamos (não todos, obviamente) na escola. Lá, a oportunidade de se educar em diversas direções: da alfabetização, do hábito da leitura, da qualidade das relações interpessoais, de experimentar novos mundos, problematizar, teorizar e contemplar coisas novas, enfim, de interagir com os saberes construídos pelos homens e outros de que todos nós, como seres sociais, precisamos para melhor nos relacionar com o que nos cerca.
Não que essas competências sejam exclusividade da escola! Entretanto, cabe-lhe, como dever e não como concessão, ampliar nossas possibilidades de atuação no mundo. A escola, sobretudo, deveria se preocupar em ensinar mais do que técnicas. Deveria contribuir para a emancipação das pessoas. Deveria se preocupar em educar a sensibilidade das pessoas. Deveria contribuir na educação da moralidade das pessoas. Deveria... Julgo que esse mesmo raciocínio deve ser assumido quando se pensa em esporte na escola.
O esporte, como a leitura, a matemática e as ciências, é uma produção cultural construída pelos homens. Enquanto patrimônio é direito de cada um. Logo, a escola deve assumir a tarefa de ensinar esporte e todos os elementos da cultura motora para que cada um de nós amplie suas possibilidades de estar e atuar no mundo. Desse ponto de vista, quem vai à escola tem o direito de educar, além da sua cognição, também a sua motricidade - que inclui a sociabilidade e a afetividade. E isso deveria ser preocupação de todas as disciplinas escolares!Penso que o ensino do esporte deveria estar vinculado ao projeto pedagógico da escola. Deveria atender os seus objetivos. Logo, a tarefa do professor é dar um tratamento pedagógico para o esporte de tal forma de que esse possa caminhar na direção de educar e emancipar as pessoas.A meu ver, o esporte de fora da escola (aquele do clube, da seleção de talentos, da excessiva competitividade) não serve para a escola. É elitista. Discriminatório. Está pautado em referenciais do esporte de rendimento, como conquistar títulos e resultados. Logo, tende a não provocar a evolução de consciências. Não conseguirá atender, suponho, a finalidade maior dos projetos pedagógicos escolares - educar.Na escola, o esporte deveria ser encarado como facilitador da auto-estima, da sociabilização, da construção de atitudes, para o desenvolvimento de capacidades e de habilidades.
De outro lado, se a pretensão for a composição de equipes - se for de interesse dos alunos - o que haveria de errado? Nada. Quem faz esporte, compete. O que se pode discutir é como tratar a competição. As escolas deveriam (e algumas assim o fazem) criar horários para a iniciação nos diferentes esportes. Sem limite de vagas, para todos. Cada aluno optará pelo o que melhor lhe convir. Democraticamente. Mas, sem essa de fazer da iniciação um "campo de batalha".
Continua sendo esporte, mas educacional. Continua a ser esporte de dentro da escola. Esporte com tratamento pedagógico. Na escola possível que idealizo (e permito-me idealizar o que quiser), todas as crianças aprendem esporte se divertindo e, nas inter-relações, constroem atitudes cooperativas.
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